Rejeitado por zoológicos devido às marcas deixadas pelos maus-tratos que sofreu quando viveu em dois locais, o leão Juba, 18, enfrenta uma saga para ganhar uma vida digna em um novo lar. Recebendo os cuidados há mais de três anos no Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres) do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) em Fortaleza, desde que foi apreendido em um zoológico particular na capital cearense, Juba necessita de um local adequado para viver.
A trajetória de incertezas e sofrimento do leão parece não ter fim. Há três meses o animal espera uma viagem de avião do Ceará para São Paulo --uma viagem de cerca de 3.000 km--, onde deverá viver num santuário ecológico em Jundiaí (a 58 km da capital paulista).Segundo o Ibama-CE, após superar a falta de um local para viver, o leão sofre agora com a espera por um avião para viajar. Dois pregões foram abertos para contratar uma empresa para transportar o leão, mas nenhuma companhia se interessou em participar.Em busca de uma empresa que abraçasse a causa, o Ibama e a Associação Mata Ciliar conseguiram sensibilizar a TAM Cargo, mas com tudo pronta para o voo, o setor de cargas avisou que a caixa de Juba não caberia no bagageiro de nenhuma das aeronaves que fazem voo regular do Ceará para São Paulo. O transporte custaria R$ 15 mil.
“Já estava tudo certo, e até os veterinários estavam com as passagens compradas para acompanhar o transporte do animal, mas o setor de carga da companhia avisou que a caixa era grande demais e não caberia no bagageiro do avião”, contou o analista ambiental do Cetas do Ibama-CE, Alberto Klefasv, explicando que Juba está totalmente adaptado à caixa que deverá ficar preso durante a viagem e está em um bom estado de saúde, apesar da idade. Sem caber no avião, o Ibama tentou outra alternativa. “Procuramos uma alternativa com a FAB (Força Aérea Brasileira), mas o valor cobrado para o transporte ficou inviável. Disseram-nos, por meio de ofício, que seria um voo exclusivo e custaria R$ 250 mil”, afirmou.
Segundo a voluntária da Mata Ciliar Célia Frattini, o impasse para o transporte de Juba esbarrou na burocracia. A única companhia aérea que faz transporte de cargas, e que tem uma aeronave que caberia a caixa do leão, a ABSA, não trabalha com o sistema de empenho e não possui toda a documentação exigida pelo governo federal para que o Ibama pague o transporte.
“Não temos outra alternativa a não ser arcar com o custeio do transporte de Juba, que será feito pela ABSA. Hoje conseguimos baixar o custo para R$ 13.260, mas não temos esse valor. A diretoria da TAM nos prometeu que iria doar uma parte desse valor para ajudar no custeio, mas ainda não definiu quanto seria”, afirmou Frattini.
Agora, a ONG Mata Ciliar abriu uma nova campanha para arrecadar R$ 5.000, que seria o valor restante para o custeio do transporte de Juba para São Paulo, além das passagens dos dois veterinários que vão acompanhar o animal em todo o trajeto aéreo.
“Estamos contando que a TAM vai doar o valor que iria cobrar do transporte de Juba, que foi de R$ 8.000. Como sobrou R$ 2.400 da campanha para a construção do recinto, esse valor vai também ajudar a completar o custeio do transporte de Juba, mas também tem as passagens dos dois veterinários, além das despesas de alimentação e hospedagem”, explicou Frattini, destacando que todas
as doações estão postadas na página do Facebook aberta para a campanha com as devidas prestações de conta.
Caixa
A caixa que Juba será transportado foi confeccionada com material reciclado pela empresa Tetra Pak. A caixa é arejada e tem isolamento acústico para que o felino não se assuste ou sofra qualquer tipo de estresse durante o transporte. A caixa de Juba tem 2,20 metros de comprimento e 1,30 metro de altura, suficientes para o animal se locomover durante cerca de quatro horas de viagem de avião.
Devido a idade e aos maus-tratos sofridos, os veterinários do Ibama analisaram que Juba não resistiria a uma viagem terrestre e só poderia ser transportado por avião. “A caixa em que ele será transportado já está aqui há cerca de quatro meses, e depois de um processo de adaptação, Juba já se alimenta dentro da caixa. Fizemos esse trabalho de adaptação para que o leão não note que está fora do meio em que vive há três anos e tenha de tomar sedativos durante o transporte. Acreditamos que ele não vai notar que está em um bagageiro de um avião porque a caixa já faz parte da rotina do habitat atual dele”, explicou o analista ambiental.
Vida de sofrimento
O leão Juba tem uma vida de sofrimento desde que nasceu. O animal foi apreendido por duas vezes em dois zoológicos devido a maus-tratos que sofreu. Há três anos, Juba vive junto com a leoa Yasmim, 10, no Cetas do Ibama, quando foi resgatado de um zoológico particular do Estado após a constatação de maus-tratos.
O local foi interditado, e os animais apreendidos na época conseguiram novos lares –menos o leão e as duas leoas Yasmim e Tchutchuca, 5, que teve mais sorte que os outros dois felinos e em março deste ano seguiu para o zoológico de Teresina. Yasmim deverá seguir para um zoológico em São Paulo, mas sem data definida, também devido a problemas relativos ao transporte.
De acordo com a Associação Mata Ciliar, quando Juba era mais jovem, aos 7 anos, morava em um zoológico particular que tinha situação irregular no Rio de Janeiro. O local foi desativado pelo Ibama em 2001 e Juba foi transferido para outro zoológico. Ele seguiu para em Fortaleza, e novamente sofreu maus-tratos. Em 2008, o local foi fechado devido às irregularidades e Juba e mais duas leoas ficaram no Cetas à espera de adoção.
Sensibilizada com o sofrimento de Juba, a ONG Mata Ciliar se comprometeu a adotar o animal e fez uma campanha para arrecadar dinheiro para custear a construção de um recinto apropriado para abrigar o leão em definitivo. A construção custou R$ 30 mil e todo o valor foi obtido com arrecadação de campanha.
PARA AJUDAR O LEÃO