AS VEZES PERGUNTAM-ME PORQUE INVISTO TANTO TEMPO E DINHEIRO FALANDO DE AMABILIDADE PARA COM OS ANIMAIS, QUANDO EXISTE TANTA CRUELDADE ENTRE OS HOMENS...AO QUE EU RESPONDO : ESTOU A TRABALHAR NAS RAÍZES ! (GEORGE T. ANGELL)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O CÉU (Paulo Coelho)

Um homem, o seu cavalo e o seu cão iam por um caminho.
Quando passavam perto de uma árvore enorme, caiu um raio e os três morreram fulminados. Mas o homem não se deu conta de que já tinha abandonado este mundo, e prosseguiu o seu caminho com os seus dois animais. (Às vezes os mortos andam um certo tempo antes de tomarem consciência da sua nova condição).

O caminho era muito comprido, e colina acima, o sol estava muito intenso; eles estavam suados e sedentos.
Numa curva do caminho viram um magnífico portal de mármore, que conduzia a uma praça pavimentada com  portais de ouro.

O caminhante dirigiu-se ao homem que guardava a entrada e travou com ele, o seguinte diálogo :
- Bons dias
- Bons dias - respondeu o guardião.
- Como se chama este lugar tão bonito ?
- Aqui é o céu.
- Que bom termos chegado ao céu, porque estamos sedentos !
- Voce pode entrar e beber quanta água queira - e o guardião apontou a fonte.
- Mas o meu cavalo e o meu cão também tem sede...
- Sinto muito - disse o guardião, mas aqui não é permitido a entrada de animais.

O homem levantou-se com grande desgosto, visto que tinha muitíssima sede, mas não pensava em beber sozinho. Agradeceu ao guardião e seguiu adiante.

Depois de caminhar um bom pedaço de tempo encosta acima, já exaustos os três, chegaram a um outro sitio cuja entrada estava assinalada por uma porta velha que dava para um caminho de terra ladeado por árvores...
Á sombra de uma das árvores estava deitado um homem, com a cabeça tapada por um chapéu. Dormia provavelmente.
- Bons dias - disse o caminhante.
- O homem respondeu com um aceno.
- Temos muita sede, o meu cavalo, o meu cão e eu.
- Há uma fonte no meio daquelas rochas - disse o homem apontando o lugar
- Podes beber toda água que quiserdes.

O homem, o cavalo e o cão foram até a fonte e mataram a sua sede.

- O caminhante voltou atrás, para agradecer o homem.
- Podeis voltar sempre que quiserdes - respondeu este.
- A propósito, como se chama este lugar ? perguntou o caminhante.
- Céu
- O céu ? Mas, o guardião do portão de mármore, disse-me que ali é que era o céu !
- Ali não é o céu, é o inferno - contradisse o guardião.
O caminhante ficou perplexo.
- Deverias proibir que utilizem o vosso nome ! Essa informação falsa deve provocar grandes confusões !
advertiu o caminhante.
- De modo algum ! respondeu o guardião - na realidade, fazem-nos um grande favor, porque ficam ali todos os que são capazes de abandonar os seus melhores amigos.!!!


(Jamais abandone os teus verdadeiros amigos, ainda que isso te traga inconvenientes pessoais. Se eles se vem a dar o seu amor e companhia, ficas em dívida para com eles :  NUNCA  OS ABANDONE )

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